domingo, abril 05, 2020

DIA UM: CENA EM ELEVADOR



Sabe aquele dia que você esta realmente cansada de tudo, da vida?
Pois bem, era assim que eu me sentia.

Tudo o que eu queria era chegar em casa e poder relaxar, sozinha e em paz, esquecer por algumas horas que o resto do mundo existe.
Cheguei no meu prédio e apertei o botão do 5º andar, mas no 2º andar o elevador parou e entrou alguém que obviamente não morava ali. Eu já morava ali a tantos anos que conhecia todo mundo.

Você já teve aquela sensação de quando você olha e acha que conhece a pessoa, sente aquela energia familiar mas não faz ideia de onde essa sensação esta vindo? Foi assim que me senti e acho que ele teve mesma sensação, pois desde que entrou ficou me olhando de soslaio, tentando sem sucesso disfarçar os olhares.

Ele apertou o botão do subsolo, mas o elevador continuou subindo e eu logo poderia esquecer do mundo.
Mas ele parou no 4º andar e as portas não abriram. O elevador simplesmente parou e eu e ele ficamos ali sem saber o que fazer.

Apertamos o botão de emergência e uma voz respondeu dizendo que tiveram uma pane elétrica e que teríamos que aguardar por algum tempo até que alguém (bombeiros, mecânicos, eletricistas... não sei ao certo) viesse nos tirar dali.

Sem muito o que fazer, sentei no chão do elevador e coloquei minha cabeça entre as pernas, no intuito de por um segundo esquecer que aquilo ali estava acontecendo.

Ele se abaixou e tocou meu ombro, eu ergui a cabeça e nossos olhos se encontraram, foi ali que eu entendi aquela sensação. Era ele!

Marcos, do terceiro ano do ensino médio estava ali na frente. O grande amor da minha juventude, alguém que por mais que eu tentasse, nunca consegui esquecer. O rosto mudou, esta mais maduro, mas os olhos ainda são os mesmos, a mesma sensação de pureza, mesmo depois de 10 anos.

Aquela falha mecânica mudou minha vida, se não fosse por ela, talvez não tivessemos nos reencontrado, porque ele também não havia me reconhecido de imediato.

Ficamos por duas horas conversando dentro daquele elevador, colocamos em dia 10 anos de conversa atrasada e no fim dessas duas horas, parecia que nunca tinhamos nos afastado.

Quando chegaram para nos tirar de lá, trocamos telefones e a promessa de que iriamos nos encontrar novamente para um café.

As vezes as coisas não saem exatamente como queremos, mas podem ser muito melhores.

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