sexta-feira, outubro 18, 2024

O Maníaco do Parque




Meu fascínio por psicopatas é algo de longa data! E o mais curioso é que, hoje, dia 18, foi lançado na Prime Vídeo o filme "O Maníaco do Parque". E mesmo sem saber que ele sairia, Às 7h22 eu já estava lá, assistindo! Então, segue o fio:

O "Maniaco do Parque" conta a história da Francisco de Assis Pereira, um dos mais aterrorizantes serial killers do Brasil. Entre 1997 e 1998, ele matou pelo menos 10 mulheres e atacou outras 13. Sua estratégia era seduzir as vítimas com promessas de sessões de fotos, usando de seu carisma e de seu trabalho como motoboy. A brutalidade dos crimes, que chocaram o país, transformou o caso em um dos mais marcantes na história policial brasileira.

O filme começa com uma cena poderosa: ao som da versão punk de "What a Wonderful World", de Joey Ramone, vemos Francisco de Assis Pereira, interpretado por Silvero Pereira, fluir pelas ruas de São Paulo com seus patins e um sorriso estampado no rosto. A fotografia ensolarada contrasta com o cinza dos prédios, e já da pra sentir a dualidade no ar. O simpático motoboy esconde uma mente perversa, pronta para caçar suas vítimas, e essa tensão está presente desde os primeiros minutos. De cara você já se pergunta: O que esse cara vai aprontar?

Maurício Eça, que já fez sucesso com a trilogia de Suzane Von Richthofe, sabe o que faz quando se trata do gênero true crime. Obviamente eu não acompanhei o frenesi da época, era apenas uma criança, mas pelo que já li a respeito, acredito que ele tenha sido muito bem representado, mostrando uma mídia que não parava de falar sobre o Maníaco do Parque. Além disso, é muito importante destacar o cuidado com o qual o filme aborda a violência, que não foi exposta de forma gratuita, tudo muito bem elaborado, destacando um cuidado notável em relação as vitimas.

Falando nisso, não posso deixar de mencionar Elena, uma jornalista fictícia interpretada pela linda Giovanna Grigio. Ela representa aquele olhar que a gente não vê nas manchetes o das mulheres que foram vítimas e o da sociedade que assiste, impotente, mas com muito ódio guardado. É interessante notar como o filme tenta balancear essa narrativa com a de Francisco, quase transformando-o em coadjuvante  para que a história das vítimas ganhem mais visibilidade. Grigio, que sempre vimos em papéis mais leves, entrega uma atuação cheia de camadas e no meu leigo ponto de vista, maravilhosa, enquanto Silvero Pereira, entrega uma performance realmente perturbadora inclusive no seu próprio olhar.

Para mim, um ponto de destaque na produção foi o cuidado ao mostrar as cenas dos crimes. Elas são tensas sim, mas a violência não é gratuita. A câmera foca mais na expressão do Francisco, naquele olhar vazio, do que em detalhes gráficos. Isso dá um tom de horror psicológico muito mais profundo, o que eu amo!

Agora, um ponto que eu acho que poderia ter sido diferente é a leveza do final. O filme constrói uma atmosfera densa, mas acaba optando por um desfecho mais otimista e clichê, o que quebra a experiência que foi oferecida até ali. Francisco pode ser solto em agosto de 2028, então essa leveza não combina com a realidade do que ele representa, especialmente considerando que ninguém esta satisfeito com essa possível liberdade... exceto algumas mulheres, apaixonadas por Francisco que escrevem diversas cartas para ele no presidio, mas isso é história para um outro post.

Por fim, podemos considerar que o O Maníaco do Parque é um filme forte e muito bem conduzido, se tornando um true crime que não só assombra, mas também nos faz refletir sobre as vítimas e o papel da mídia.

quarta-feira, outubro 16, 2024

O grito do desejo





"Você precisa sustentar os seus desejos"

Sim, foi isso que ouvi da minha psicóloga. Palavras soltas com uma facilidade que não exprimem a realidade desta ordem que carrega um peso imenso. 
Sustentar meus desejos? Mas afinal, o que são os meus desejos? Às vezes, parece que os perdi no caminho, em meio as pressões da rotina, às responsabilidades e as obrigações que a vida nos impõe. Mais do que nunca, sinto que os gritos dos meus desejos estão silenciados, abafados, submersos e quase imperceptíveis, como leves sussurros distantes em meio a um oceano de ruídos.

Vivemos em uma sociedade onde o espaço para o desejo está cada vez mais restrito. O desejo, que antes era vibrante e impulsivo, agora se dissolve na correria do dia a dia, na busca incessante pelo cumprimento das obrigações, na sobrevivência em um mundo que nos cobra por resultados, eficiência e produtividade a cada segundo do dia. Essa rotina que suga nossa energia, atenção e faz com que nos sintamos culpados ao buscarmos momentos de prazer, onde a produtividade é deixada de lado, não nos permite encontrar, identificar e sustentar nossos próprios desejos. 

Os desejos não coexistem com a pressa. Eles precisam de tempo, espaço e silêncio. Hoje, privilégio para poucos.

Desde a fala dela pensei muito sobre o que são meus desejos. Como reconhecer aquilo que vem de mim mesma? Como separar o que eu realmente quero do que esperam de mim? Nessa confusão, o desejo, que deveria ser a minha bússola interna, transforma-se em um grito abafado que mal consigo ouvir. O que eu quero de verdade? Qual é o grito que vem lá de dentro? É um grito de liberdade? De descanso? De pertencimento? De amor? Eu não sei...

Enquanto luto para encontrar essas respostas, percebo o quão facilmente os desejos podem ser silenciados, esmagados pela necessidade de sobreviver. Em um mundo onde milhões estão apenas lutando para garantir comida, moradia e roupas, o desejo torna-se algo secundário, quase supérfluo. A necessidade grita mais alto, ofuscando aquilo que queremos verdadeiramente. Há um grito constante por sobrevivência, que cala os outros gritos. Quando a vida se resume a sobreviver, o desejo se transforma em um luxo, algo reservado para aqueles que já conquistaram o básico, que já têm tempo para refletir sobre o que realmente querem.

E, mesmo para aqueles que têm esse privilégio, como é o meu caso, o desejo muitas vezes parece inacessível. Não pelo fato de que não tenho o que preciso para viver, mas porque a vida moderna nos oferece tantas distrações que sufocam nossos verdadeiros anseios. Quantas vezes já me peguei rolando o feed do Instagram por horas a fio, tentando não pensar na minha própria existência, evitando o grito incômodo que ecoa dentro de mim? É claro que essa percepção não surgiu sozinha, percebi isso ao longo de muito tempo de terapia. Esse comportamento de busca constante por algo externo para preencher um vazio interior é, na verdade, uma forma de amortecer o grito dos desejos. Porque, de algum modo, nossos desejos parecem inalcançáveis. Talvez seja mais fácil anestesiar o grito do que enfrentá-lo, do que assumir a responsabilidade de sustentá-lo.

Porém, quanto mais fujo desse grito, mais ele parece crescer. O desejo não desaparece quando o ignoramos. Ele se acumula, intensifica-se e, eventualmente, torna-se insuportável de ser contido. E, então, ele explode, às vezes de maneira destrutiva. Pode ser o desejo de largar tudo, de fugir, de mudar radicalmente de vida. Pode ser o desejo de ser ouvido, compreendido, amado. Pode ser o desejo de simplesmente descansar, de encontrar paz. Mas quando reprimimos esses desejos, o grito silencioso vai se tornando um barulho ensurdecedor dentro de nós.

O grito dos desejos é, muitas vezes, um grito de liberdade. Liberdade das expectativas, das imposições externas, das normas sociais que nos dizem o que devemos querer, como devemos nos comportar, o que devemos fazer para sermos aceitos e considerados bem-sucedidos. O desejo genuíno não segue essas regras. Ele é selvagem, imprevisível, às vezes até irracional. Mas é justamente essa natureza indomável que o torna essencial para a nossa humanidade.

No entanto, vivemos em uma época em que o grito dos desejos foi domesticado, transformado em algo que pode ser comercializado, padronizado, embalado e vendido. A sociedade nos diz o que deveríamos querer: um carro novo, o último modelo de celular, uma casa maior, uma vida perfeita nas redes sociais. E nessa avalanche de "desejos fabricados", é fácil perder de vista aquilo que realmente queremos, aquilo que nosso eu mais profundo grita em silêncio.

A pergunta que surge, então, é: como sustentar nossos desejos em meio a tudo isso? Como dar voz a esse grito que vem de dentro quando estamos constantemente sendo bombardeados por vozes externas? Sustentar os desejos, ao que parece, não é uma tarefa simples. Exige coragem, disposição para ouvir a si mesmo e, muitas vezes, desafiar as expectativas e os padrões que nos cercam.

Sustentar nossos desejos significa, antes de tudo, aprender a ouvi-los. E isso exige que criemos espaço para o silêncio, para a introspecção. Não é à toa que tantas práticas de autoconhecimento, como a meditação ou o mindfulness, nos incentivam a desacelerar, a silenciar o ruído ao nosso redor, para que possamos, enfim, ouvir o que há dentro de nós. Ouvir o grito dos desejos requer um desligamento temporário do mundo exterior e uma conexão profunda com o nosso mundo interior.

Mas ouvir não é suficiente. É preciso também agir. Sustentar nossos desejos significa transformá-los em movimento, em ação. Não adianta apenas saber o que queremos; precisamos encontrar formas de realizar esses desejos, de dar-lhes vida. E isso, muitas vezes, exige uma boa dose de ousadia, porque nossos desejos nem sempre se alinham com o que o mundo espera de nós.

Há um aspecto importante no sustento dos desejos: a aceitação de que, muitas vezes, eles mudam. O grito que ecoa dentro de nós não é sempre o mesmo. Nossos desejos podem se transformar como tempo, conforme vivemos, amadurecemos, aprendemos e experimentamos o mundo de novas formas. O desejo de ontem pode não ser o mesmo de hoje, e isso é natural. O importante é continuar ouvindo, continuar sustentando esse grito interno, mesmo que ele mude de tom ao longo do caminho.

No fim, sustentar nossos desejos é, de certa forma, sustentar a nossa própria existência. É reconhecer que somos seres que desejam, que buscam, que anseiam por algo além da mera sobrevivência. E enquanto o grito dos desejos não for ouvido, estaremos sempre incompletos, vivendo uma vida que não é plenamente nossa. Sustentar o desejo é sustentar quem somos, é dar voz àquilo que nos move, que nos faz vibrar. É, em última análise, sustentar a nossa própria humanidade.

 



quarta-feira, junho 14, 2023

Quando chega a hora do fim




 Pessoalmente, sempre considerei o fim um momento de recomeço. Embora possa ser doloroso, ele traz consigo algo muito além da dor: a oportunidade de crescimento e renovação. É a partir do fim que aprendemos a viver em novos contextos, que nos proporcionam experiências, oportunidades e amadurecimento. 

O fim nos dá possibilidade de deixar para trás toda a sobrecarga emocional . Ao encerrar um ciclo, deixamos emoções negativas como tristeza, angustia, raiva e mágoa, abrindo espaço para emoções positivas que nos confortam e alegram. Assim,  iniciamos um novo ciclo cheio de leveza. nos possibilitando encontrar novos propósitos e desenvolver relações mais saudáveis e satisfatórias.

Quando compreendemos que tudo em nossa vida é cíclico, passamos a entender que nada é permanente, que estamos constante evolução. Isso nos dá a chance de aprender, refletir sobre o que fizemos, quem fomos e não repetir os mesmos erros nos novos ciclos. 

Mas a grande dúvida que fica é: Quando esta na hora de dizer adeus?

Muitas vezes podemos não enxergar esses sinais, ou vê-los e nos mantermos resistentes diante deles com medo, o nos deixa estagnados em situações dolorosas e nos traz sofrimento emocional.

Alguns sinais mais comuns de que chegou o momento de encerrar o ciclo são:

1. Insatisfação: Sentir a sensação de que algo esta faltando ou não atende mais às suas necessidades e desejos.

2. Estagnação: Sentir-se preso, sem possibilidade de progredir ou crescer.

3. Mudança de Valores e Prioridades: Se suas crenças, interesses e objetivos mudaram, é um sinal de que você esta deixando o ciclo antigo para trás e iniciando um novo ciclo de vida.

4. Desapego emocional: A desconexão emocional e o sentimento de indiferença demonstram a necessidade de buscar novas conexões, que estejam mais alinhados  com o seu "eu" atual;

5. Resistência e esgotamento: O cansaço constante e a falta de motivação indicam que este ciclo não esta mais contribuindo para o seu bem-estar.

É importante estar sempre atento a esses sinais e nunca ignorar sua intuição. Reconhecê-los permite que você tome decisões consistentes e abra espaço para novas oportunidades e experiências que sejam condizentes com o seu momento atual.

Isso é amadurecer! Errar, reconhecer e melhorar! Cada fim nos presenteia com a oportunidade de nos tornarmos versões melhores de nós mesmos, de aprendermos com nossas experiências e de seguir adiante com mais sabedoria e resiliência.

Portanto, não devemos ter o fim, mas sim abraçá-lo como uma parte natural do processo de crescimento pessoal. É através do encerramento de ciclos que encontramos renovação e a chance de viver uma vida mais plena e satisfatória.